06/02/2011

Por onde andou?

A simples constatação de que alguém está conspirando contra mim convence a quem? Duvido que alguém mentalmente sadio acredite que a responsabilidade pelos seus constantes fracassos seja única e exclusivamente de terceiros. Deve haver um momento mágico em que esta pessoa se questiona e tenta perceber em si algo que a levou para este caminho. Mesmo num fugaz instante, deve ter algum nível de auto-avaliação!

Quem entrou na sua vida para atrapalhar a sua já desgastada relação com seu namorado, mãe, amiga, irmão? Que colega de trabalho puxou tantas vezes o teu tapete que te impediu prosperar? Que falta de sorte é esta que teima em atingir o mesmo lugar?

As perguntas, a meu ver, são outras: para onde você olhava quando achava que outro dirigia sua vida, levando-a para onde bem quisesse? Onde está você, sua vida, suas escolhas e omissões? Reconhece sua forma de enfrentar as dificuldades, de vitimar-se ou não, de falar ou calar, de agir, pensar...?

Onde foi parar aquele seu erro em não saber dialogar, em não colocar a mão na massa para enfrentar seus problemas, em temer qualquer novo desafio, em deixar a impulsividade sem controle, em não arriscar-se, em olhar pra si e para o mundo através do olho do outro?

Se existe uma insatisfatória repetição de algo, penso que seja necessário tentar saber mais a respeito do protagonista desta história onde o outro, o acaso, o destino ou a falta de sorte são meramente figurantes.

Aproveite qualquer insight e retome a consciência de que as decisões que norteiam sua vida são suas e intransferíveis. Mesmo que você opte por omitir-se, o que não aconselho, o rumo que a vida levará a partir daí é responsabilidade sua.


31/07/2010

Em cena a temida solidão!

As músicas do Zeca Baleiro sempre me encantaram muito! Gosto da sua sensibilidade para perceber o mundo e fazer disso uma poesia cantada. Uma música em especial andou chamando minha atenção: Telegrama. Nela o protagonista revela uma solidão dramática, novelesca, que imediatamente é interrompida por um telegrama de alguém declarando o seu amor. Não há promessas de voltar, nem nenhum tipo de explicação ou justificativa. A mensagem que o deixa em êxtase diz apenas que ele é amado! O divisor de águas é a indescritível sensação de pertencer ou estar vinculado a alguém, ou seja, de não estar só.

Acho incrível esta nossa necessidade de vinculação! Ela é tão primitiva quanto vital... Mas quando desvirtuada de sua característica essencial, tornando-se um meio de evitar a solidão, pode se transformar num processo automático que interfere nas escolhas, no bem estar e na forma de ver e desejar o outro. Nestes casos, estar vinculado gera tanta satisfação que chega a mascarar a importância de outros afetos e comportamentos dentro de uma relação. Para o sustento desta o que mais contribui é a gratidão por não estar só, assim como o prazer quase egoísta de ter alguém para chamar de seu (namorada, amigo, parceiro...) e usufruir da condição de ser amado, mesmo quando efetivamente não é.

Muitos, no entanto, tiveram a sorte de serem saciados por uma família acolhedora, afetiva e atenta aos desejos individuais de pais e filhos. Uma dádiva que, além de colaborar no desenvolvimento do amor saudável ao outro e a si próprio, também diminui o grito da carência que quer o amparo de alguém.

Aqueles que não tiveram, podem ainda, quando conscientes de sua situação, procurar desenvolver características ou efetuar escolhas que alimentem o amor próprio e a autoestima, enxergando o outro não como a fonte inesgotável de atenção e carinho, mas como alguém diferente com quem se pode trocar.

Dar-se conta desta possibilidade e romper o pacto silencioso com o medo da solidão certamente não é fácil e nem imediatamente agradável. Frustrações e tristezas ficarão mais evidentes quando estiver só, em contato consigo mesmo. Ao mesmo tempo, estando só, será possível conhecer um pouco mais de si e aprender sobre os meios de desenvolver orgulho, admiração, segurança, prazer e felicidade, além de compreender que é impossível experimentar a sensação de completude.

Faz bem alimentar os vínculos saudáveis, mas eles só serão realmente saudáveis quando ficar entendido que a solidão é também uma condição da existência humana e que é através dela que duas pessoas se unem para dar e receber afetos, construindo um caminho com as pedras que cada um traz de sua vida. Sem uma certa dose de solidão, não há relação.

06/06/2010

Para além da decisão

Não há como fugir... Estou a 5 centímetros do final do trampolim, visada pelos meus pais e irmãos que esperam o grande momento em que poderei provar a todos que superei o medo e irei desfrutar de salto na piscina que fez parte de toda a minha infância. Olho para a piscina e sei que ela pode receber uma adolescente magrinha depois deste salto. Olho para meus expectadores e sei que eles sabem que posso pular sem me machucar. Mas quando olho para mim, vejo que o medo ainda existe. E não é da piscina, nem de afogamento. Talvez seja do pulo, da emoção, da superação... Não sei, mas incrivelmente depois de toda a adrenalina que antecede o salto, decido voltar, de costas, à base do trampolim. Centímetro a centímetro meus pés vão se movendo e equilibrando na busca da sensação de conforto e segurança. Agora posso voltar a respirar! O susto passou! Desço aliviada pela escada e encerro, neste momento, toda e qualquer tentativa semelhante pelo resto da vida.

Se pular de um trampolim depois de meses de treino pode ser uma decisão difícil, imagina o turbilhão que acontece dentro de uma pessoa quando se dá conta de que quer ou deve finalizar uma relação longa na qual o amor e o respeito acabaram faz tempo? É o mesmo mal estar que alguns sentem ao decidir sair de um emprego bem remunerado e buscar outro que proporcione o encontro com a satisfação e o prazer. Muitos outros exemplos de decisões podem ser dados e variam conforme o grau de importância que têm para cada pessoa: viajar para outro país em busca da liberdade e da identidade que em casa foram negadas, assumir para si e para os outros a escolha sexual, libertando-se das farsas e mentiras que tanto incomodavam etc.

Decidir não é fácil, pois envolve perda, abrir mão de uma situação já conhecida e confortável, medo do arrependimento e insegurança quanto ao futuro. Além do mais para decidir é preciso ter uma dose de audácia e coragem diante do desconhecido, exigindo muita disposição para o recomeço.

Mesmo depois de uma decisão ter sido tomada, há uma distância significativa que a separa de sua efetivação. Quantos já se viram paralisados diante dos 5 minutos que antecedem a concretização de uma decisão que, aparentemente, reflete o que mais deseja ou precisa? Mais complicado ainda é para aqueles que vêem a paralisia repetir-se a cada tentativa de dar o primeiro passo. De forma crônica e apavorante, esta pessoa percebe-se presa a uma situação desconfortável e não consegue mobilizar energia suficiente para reverter o quadro.

Nestes casos é necessário investigar o que está impedindo a materialização de uma decisão (sentimentos, engessamentos, fantasias), assim como reavaliar a própria decisão: o que ela representa na vida da pessoa, quais influências ela sofre, em que situação ela foi tomada, ela responde ao desejo e à necessidade de quem etc. Lançar um olhar profundo sobre a decisão e o processo que acontece ao redor dela ajudará no esclarecimento de muitas questões que estão ocultas, proporcionando o autoconhecimento que levará a pessoa a apropriar-se dos seus mais autênticos desejos e escolhas.