Para alguns é mais fácil responder a esta necessidade e seguir firme na construção da sua vida a partir das decisões que toma. Entretanto, muitos outros vivem este processo de crescimento com insegurança e desorganização emocional, pois, por não terem aprendido a fazer escolhas, são empurrados pra a adolescência e a vida adulta destituídos da capacidade de definir a sua vida, presente e futuro.
No entanto, mesmo que na infância a autonomia tenha sido negligenciada, o final dela e o desenvolvimento cognitivo que dela provém, habilitam o pré-adolescente a se tornar um pouco mais dono de seus desejos e projetos, isto é, a ser mais autônomo. Escolher a roupa que quer usar, qual esporte quer treinar, pra onde quer passear são apenas alguns exemplos de decisões comumente tomadas por um pré-adolescente livre. Ele escolhe e se responsabiliza por esta escolha. Este é o jogo!
No entanto, é aqui que algumas famílias falham. Por duvidarem da capacidade do filho de escolher e se responsabilizar ou mesmo por não concordarem com os seus pontos de vista e prioridades, negam-lhe a liberdade de escolher, tentam influenciá-lo a mudar de opinião ou sabotam (de forma sutil e sem perceber) qualquer espaço de construção de sua individualidade, de sua identidade própria e diferenciada. Sem oportunidade, este jovem continua não desenvolvendo os atributos que lhe habilitariam a fazer escolhas: não se sentem autônomos o suficiente, não confiam em sua percepção e análise das situações e não se arriscam. Entre outros prejuízos, isso acaba desembocando na escolha da profissão, que se dá no auge da tão turbulenta adolescência.
Na minha prática profissional ainda vejo muitos adolescentes perdidos em relação a qual profissão escolher, desconhecedores que são de suas capacidades, valores e interesses; alheios ao mundo do trabalho e ao perfil de cada profissão; e inexperientes quanto a fazer escolhas. Conheço também aqueles que dizem ter escolhido, mas se agarraram a uma profissão sem a devida análise, como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira em pleno mar, numa tentativa desesperada de não afundar. Estes também não aprenderam o que significa escolher, nem sequer tiveram o trabalho de analisar as opções e o seu jeito de ser.
Inseguros, despreparados e sozinhos, sem suporte e orientação adequados, estes jovens acabam escolhendo qualquer profissão que os salvem desta situação, encerrando o angustiante processo de busca, mas não resolvendo a questão inicial do que "quero ser" e do que "quero fazer", transferindo para o futuro, para a vida adulta, este problema.