30/10/2013

A transformação permitida

-->
Depois de um longo verão, volto a postar no blog. Não usei a expressão errada. É que por aqui não fez frio algum. Meus últimos meses foram aquecidos, quentes como deve ser toda transformação. E é sobre isso que hoje estou tentada a escrever.
Tornei-me mãe e os dias não são mais iguais. A vida não é mais a mesma. Eu não sou mais quem eu era e quem eu achava que seria quando isso acontecesse. E afora todo o encantamento que vivo ao conhecer cada movimento, desejo e jeitinho da minha filha, estou enamorada pela experiência de ser diferente de mim mesma, daquela outra com quem eu já estava quase acostumada desde quando a vida adulta trouxe alguma estabilidade.
Pois bem, renasci. Aliás, renasço hoje e certamente amanhã também. E parece que assim será por um bom tempo. Não tenho mais ou mesmos limites, nem a mesma percepção de mundo e muito menos os mesmos desejos. Minha lista de necessidades está renovada. Não caibo mais nos mesmos conceitos e crenças, e minhas antigas verdades tiveram que ser reajustadas.
Quanta ousadia há nesta plasticidade! Eu bem sabia que isso seria possível, mas viver, experimentar e agora perceber, foi mesmo surpreendente e encantador. Ser outra sendo eu mesma! Parece tão estável, mas é diferente. Parece tão simples, mas é profundo e às vezes dolorido. Parece tão mágico, mas não aconteceu por acaso. Uma grande mudança, decididamente, não é obra do destino!
Acho que muitos “novos eus” passam anos latejando dentro da gente, pedindo um momentinho de nossa atenção para nos provar o quanto são possíveis, o quanto são necessários.
Algumas vezes a gente só precisa de um motivo pra assumir aquela “outra” que já existe em nós e está prestes a aparecer. Noutras, precisamos criar o caminho para mostrá-la, desafiando o medo ou mesmo a vergonha.
Virar mãe ou pai, entrar na faculdade, fazer 23 (ou 28, 40...) anos ou qualquer outro marco, talvez sirva para dar aquela sensação de que houve motivo pra mudança, o que não é uma hipótese 100% descartável. As situações e contextos estão ai para nos estimular, nos fazer aprender, nos remodelar.
Mas as transformações podem também acontecer num piscar de olhos, no passo seguinte, sem grandes espetáculos ou cerimônias. Acontecem num simples momento em que nos permitimos ouvir aquela voz interna que sussurra e mostra uma nova forma de caminhar, de pensar, de entender, de sentir, de viver.
A questão é percebermos o quanto estamos disponíveis para ouvir essa voz e abrir mão daquele jeitão de ser já enrijecido, cristalizado e inadequado. Afinal, renovação é algo que faz parte da nossa natureza (nossas células já fazem isso, não é mesmo?) e para o qual somos tentados diariamente.

Um comentário:

  1. "...Mas as transformações podem também acontecer num piscar de olhos, no passo seguinte, sem grandes espetáculos ou cerimônias. Acontecem num simples momento em que nos permitimos ouvir aquela voz interna que sussurra e mostra uma nova forma de caminhar, de pensar, de entender, de sentir, de viver..."
    "Demorar" em si mesmo, permitindo-se sentir sem julgamentos, mas com aproprição e sem padrões pré-estabelecidos é de fato um processo transformador. Sinto-me em transformação!
    Identifiquei-me muito com o texto. Boa reflexão, boas trocas, bom exemplo...

    ResponderExcluir